terça-feira, 9 de dezembro de 2014

O problema da corrupção e a cumplicidade do povo

Por João Batista Passos

O dia 09 de dezembro é o Dia Internacional Contra a Corrupção. Este é um dos problemas, talvez o principal, que impede o desenvolvimento econômico e social do Brasil e de muitos países do mundo. Quando se fala em corrupção na política, vem à mente a figura do político corrupto, o cara mau que rouba, desvia ou aplica mal o dinheiro da saúde, da educação, da infraestrutura e etc; O cara que fica rico à custa do dinheiro público, que ajuda a manter os serviços públicos ruins, colaborando para a falta de médicos e remédios nos hospitais, para a falta de estrutura das escolas e das ruas, que colabora para os baixos salários dos professores, para a falta de segurança e tantos outros problemas vivenciados pelos que necessitam dos serviços públicos. Serviços estes que, na teoria, deveriam ser excelentes e acessíveis a todos. A visão do político corrupto ajudou a criar uma cultura de repudio aos políticos, fazendo com que todos sejam taxados de “ladrões”.

Esta visão tem feito com que a sociedade não observe as verdadeiras causas do problema da corrupção, que tem suas raízes no seio da própria sociedade. Para haver corrupção é preciso uma vasta rede de cumplicidade e esta rede começa com o eleitor, principalmente os menos informados, que são utilizados para manter os corruptos no poder. É comum ver pessoas em busca de patrocínios de políticos, seja de vereador, prefeito, deputado ou senador. Nas cidades pequenas, as pessoas procuram os políticos para ajuda-los a solucionar os seus problemas pessoais, desde uma conta de água até a construção ou reforma de uma casa. A compra de votos não acontece apenas na época da eleição, ela se mantem de forma constante e o pagamento é feito de forma parcelada, através do clientelismo e/ou assistencialismo. Muitos que vendem o voto não se dão conta de que estão vendendo o voto, acham que estão sendo ajudados por um “amigo”. Esse dinheiro do “amigo bondoso” não sai do bolso dele, sai dos cofres públicos, por meio dos esquemas de corrupção, principalmente licitações com sobrepreço, algo que deveria ser fiscalizado pelo legislativo.


Os vereadores, representantes mais próximos do povo, não cumprem com o seu papel de fiscalizar o executivo, de trabalhar pela boa aplicação dos recursos públicos. Na maioria dos casos, os vereadores são meros assistentes do prefeito que, para “ajeitar” o eleitor, precisam se submeter ao executivo. Outro fato vivenciado nas câmaras, principalmente nas pequenas cidades, é a falta de dedicação dos vereadores para com o cargo, sendo difícil encontrar algum vereador que dedique pelo menos quatro horas diárias ao cargo.

O povo não entende o verdadeiro papel dos seus representantes e, com isso, ajuda a manter um sistema político corrupto. Enquanto perdurar este sistema — enquanto o povo não parar de vender o voto por interesses pessoas, em detrimento do coletivo — a violência, a falta de saúde e de educação de qualidades continuarão sendo regra e não a exceção.

Debater a rede de cumplicidade da corrupção é uma tarefa urgente, assim como conscientizar a sociedade de que o problema da corrupção tem origem no eleitor e não no político. Eleitores conscientes e participativos poderão se tornar e/ou eleger políticos responsáveis, empenhados com a boa aplicação dos recursos públicos e não com o seus interesses pessoais, de familiares e de amigos.

Dia Internacional Contra a Corrupção

O Dia Internacional Contra a Corrupção é uma referência à assinatura da Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção, que ocorreu na cidade mexicana de Mérida em 9 de dezembro de 2003. Mais de 110 países assinaram a Convenção, que entrou em vigor internacionalmente no dia 14 de dezembro de 2005. Referida Convenção também prevê a cooperação para a recuperação de somas de dinheiro desviado dos países e a criminalização do suborno, lavagem de dinheiro e outros atos de corrupção.