domingo, 30 de outubro de 2011

Cáritas Maranhão realiza IV Plenária Estadual da Rede Mandioca em São Raimundo das Mangabeiras

Foi realizada, entre os dias 27 e 29 de outubro, em São Raimundo das Mangabeiras , a IV Plenária da Rede Mandioca, projeto desenvolvido pela Cáritas do Maranhão em mais de 30 municípios, em todas as regiões do estado. Durante os três dias, foram apresentadas e avaliadas as ações do projeto durante o ano. Houve debates sobre os avanços e dificuldades do método trabalhado pela Rede Mandioca, dentre outros assuntos.

O público, vindo de várias cidades que fazem parte da rede, participou da inauguração de uma casa de farinha no Assentamento Bacuri, projeto apoiado pelos fundos solidários - parceria Cáritas e Banco do Nordeste; e fizeram um intercambio para conhecer as técnicas e princípios do sistema agroflorestal, desenvolvido na localidade Descanso.

Para animar e descontrair os dois primeiros dias de trabalho, aconteceu na sexta feira (28), o II Festival Estadual da Rede Mandioca e Noite Cultural das Comunidades, com apresentações de peças teatrais encenadas pelo grupo Faces Mangaba, de São Raimundo das Mangabeiras; a comercialização de produtos da agricultura familiar e o depoimento de Manoel da Conceição, líder camponês, membro/fundador do PT (Partido dos Trabalhadores) Nacional e presidente do CENTRU (Centro de Educação e Cultura do Trabalhador Rural) de Imperatriz (MA), que fez um relato da sua história de luta e resistência pela reforma agrária e pela economia solidária.

Também foram apresentados e debatidos na plenária, os impactos do avanço do agronegócio na região do cerrado maranhense, com apresentação do documentário “A soja na terra das chapadas”, com assessoria de Antonio Crioulo da CPT (comissão Pastoral da Terra); A dimensão das políticas públicas na construção de alternativas produtivas sustentáveis contou com a assessoria de Ricarte Almeida, Assessor Regional do programa de políticas públicas e coordenador estadual da Cáritas do Maranhão. A plenária contou também com a assessoria da Rede de Educação Cidadã (RECID), representada pela educadora popular Teresinha Martins Moura. Gilvan Alves, da coordenação estadual da rede Mandioca, debateu com os participantes o aprofundamento da concepção e os objetivos da rede.

“O agronegócio, ele só destrói. Ele destrói a terra, ele destrói as plantas, ele destrói a água, ele destrói os seres humanos. Nós precisamos construir uma alternativa a partir dos movimentos sociais. Nós precisamos está bem articulados, sairmos de um encontro como esse aqui com encaminhamentos precisos, para que o agronegócio seja enfrentado por nós de uma forma sábia e de uma forma muito bem organizada e fortemente articulada. Nós precisamos construir as nossas alternativas, não combater o agronegócio só por combater, mas combater apresentando alternativas que é possível se viver sem a ação do agronegócio. A rede Mandioca é um dos passos, porque a rede mandioca é uma forma de produzir sem está com a influencia do agronegócio. Então nos precisamos investir cada vez mais na agricultura familiar de uma forma sustentável, para que as famílias e a natureza possam viver tranquilamente”, destaca Antonio Crioulo.

84% da farinha de mandioca produzida no Brasil é proveniente da agricultura familiar. Na agricultura empresarial, em média, emprega-se 1 trabalhador para cada 100 hectares cultivados, enquanto que na agricultura familiar a relação é de 10 trabalhadores para cada 100 hectares cultivados. A agricultura familiar é responsável por mais de 70% da alimentação dos brasileiros.

“A mandioca tem tantos produtos, mas historicamente ela foi marginalizada. O próprio estado, os bancos... Todo mundo achava que a cultura da mandioca era uma coisa inviável. No entanto, todo mundo sobrevive produzindo farinha, comendo farinha... E no maranhão, não se tinha assistência técnica, não se tinha crédito. O trabalho da Cáritas foi começar a despertar na cabeça dos agricultores de mandioca, que estão presentes em todas as regiões do estado, que eles tem uma riqueza nas mãos, uma riqueza que pode gerar sobrevivência, pode melhorar o padrão alimentar, pode desencadear, inclusive, outros setores da agricultura familiar. O nosso desafio é mostrar para o governo que ele pode garantir políticas publicas de apoio a cultura da mandioca, a agricultura familiar, que essas agriculturas da pequena roça, da roça do toco, do pequeno trabalhador é algo viável e afirma direitos e afirma identidades”destacou Ricarte Almeida.

“Esse evento foi um dos mais importantes que já houve nesse estado de alguns anos pra cá. Por que nos estamos analisando as forças reacionárias [do capital], como é que estão pensando, como é que estão fazendo conosco [ trabalhadores do campo e da cidade].E nós também, agora, chegamos a uma conclusão que nos precisamos está juntos, unidos contra eles, então pra mim isso é fundamental, essa luta nossa, de todos nós, contra essas forças reacionárias”, disse Manoel da Conceição. Para ele, é importante que os trabalhadores passem a assumir cada vez mais o poder político e que todos os movimentos sociais devem está juntos nessa busca.

Assistência Técnica

Os técnicos da rede Mandioca, “Zé Filho”, Rose Rodrigues e José Sousa, apresentaram as ações desenvolvidas em cada região onde atuam. Eles são unânimes em dizer que o trabalho da rede é sobrecarregado devido a falta de apoio, aos trabalhadores, pelos poderes públicos e que os técnicos tem que atender muitas localidades, muitas delas distantes umas das outras.

Para Rose Rodrigues, técnica agropecuária na região do Baixo Parnaíba e Cocais, um dos maiores desafios em trabalhar na rede Mandioca é manter a assistência técnica constante.

“Somos três [técnicos da Rede Mandioca] a nível de Maranhão... Infelizmente a gente não consegue está presente muito tempo só numa comunidade, então a gente tem que está fazendo esse rodízio”.

Para José Sousa, técnico agropecuário que presta assistência na região da Baixada e do Vale do Pindaré, o poder publico não incentiva o desenvolvimento da agricultura.

“O poder público se ausenta de todas as formas para não discutir, para que a agricultura não desenvolva”.

José Filho, técnico em gestão agroflorestal , presidente da Cáritas na diocese de Balsas e que atua nas regiões Sul, Central e Mearim, fala que a questão da distancia entre os municípios e a quantidade de comunidades atendidas pelos técnicos são alguns dos maiores desafios para a rede Mandioca.

“Nós temos grandes dificuldades na questão desse trabalho, nós trabalhamos com os mesmos temas, os mesmos princípios, só que as vezes a gente não consegue alcançar de tal forma como deve ser, devido a quantidade de municípios e comunidade que agente acompanha. Os três [ técnicos] não atende essa demanda por igual, por causa das distancias dos municípios, das comunidade também”. José filho cita também a falta de apoio dos poderes públicos, estadual e municipais, para com a agricultura, principalmente a assistência técnica, o que aumenta a demanda das instituições sociais.

“A assistência técnica que você encontra nessas comunidades é alguma instituição que está garantindo, mas não é o governo municipal e também nem governo estadual. As instituições sociais como é a Cáritas e outras que trabalham com essa questão, estão dando esse apoio a esses agricultores”, disse.

Jorge da Silva, um dos beneficiários da rede Mandioca, na comunidade Nova Unha de Gato no município de Lago da Pedra, conta como a Cáritas se relaciona com o dia-a-dia da comunidade, não apenas com rede Mandioca, mais também com outras ações, como a ajuda para a reconstrução de casas da comunidade, destruídas por uma enchente.

“Nós conseguimos mudar, através da Cáritas. Nós fizemos 109 casas através de grupo e ai eu acho que seja um desenvolvimento da parte da Cáritas. Nós temos um pequeno negócio de galinha, caipirão,nós temos um projeto de roça para mandioca. Nós temos 12 ‘tarefas’ de mandioca e nós estamos preparando outras para tornar plantar esse ano, tudo nessa iniciativa da Rede Mandioca” conta. A comunidade desenvolve também um trabalho para preservar as sementes “crioulas”, aquelas que são nativas da região.

A Rede Mandioca

A Rede Mandioca surgiu em 2004, inspirada em outras experiências bem sucedidas de articulação em rede, pautadas nos princípios da economia popular solidária. Sua área de atuação é o estado do Maranhão, embora vez por outra, dialogue com experiências em outros estados. A Cáritas Brasileira Regional Maranhão assume a assessoria técnica à articulação.Foi na entidade, aliás, durante um encontro de planejamento, que surgiu a ideia de articular em rede, produtores, não só de mandioca: a Rede Mandioca congrega também artesãos, criadores de pequenos animais, extrativistas e agricultores, entre outros.

A Cáritas

A Cáritas Brasileira é uma entidade de promoção e atuação social que trabalha na defesa dos direitos humanos, da segurança alimentar e do desenvolvimento sustentável solidário. Sua atuação é junto aos excluídos e excluídas em defesa da vida e na participação da construção solidária de uma sociedade justa, igualitária e plural.

Fundada no Brasil em 12 de novembro de 1956, a Cáritas Brasileira faz parte da Rede Cáritas Internationalis, presente em 165 países e territórios. Reconhecida como entidade de utilidade pública federal, ela também é um organismo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

Atualmente a Cáritas Brasileira conta com 176 entidades-membro espalhadas por todo país e atua em 12 regionais: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Norte II (Amapá e Pará), Maranhão, Piauí, Ceará, Nordeste II (Alagoas, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte) e Nordeste III (Bahia e Sergipe).