domingo, 28 de dezembro de 2014

Exemplo de como os vereadores não cumprem o seu papel e de como eles não têm culpa; A culpa é do eleitor que vende o voto

Prédio da Câmara de São Raimundo das Mangabeiras.
Por João Batista Passos

Dentre os meus projetos para 2015 — infelizmente não existe a certeza de que algum deles vá prosperar— está a ideia de realizar encontros com pessoas que, assim como eu, enxergam diversos problemas na forma como a sociedade é representada no poder legislativo, principalmente nas câmaras municipais. A ideia do projeto é debater como os vereadores deveriam atuar, fazendo uma relação sobre como de fato eles atuam. Após as discussões em grupo, os principais temas serão levados ao debate com a sociedade por meio dos mais variados veículos de comunicação, de abrangência local.

Dentre alguns dos muitos problemas que poderão ser debatidos, recentemente um chamou a minha atenção. Mas, me causou ainda mais espanto como a sociedade não viu problema em tal fato. A questão em si, que poderia ser um escândalo — caso a sociedade estivesse preparada para o debate político sério—, foi que cada vereador de São Raimundo das Mangabeiras recebeu autonomia para distribuir 7 (sete) lotes em um programa da prefeitura.

Uma grande parcela da população poderá me interpelar: “Mas, qual o problema do vereador ter a autonomia para distribuir lotes aos seus eleitores, ajudando os que não têm moradia?”.

Como resposta, transcrevo uma mensagem que enviei a um dos onze vereadores da cidade: “Olá. Fiquei sabendo que cada vereador recebeu 7 terrenos no novo bairro. isso é verdade?... Se for verdade, acredito que é algo que não deveria acontecer, pois fere a lisura da distribuição e os vereadores perdem o poder de fiscalização, além de ser antiético e favorecer a compra de votos...”.


Sei que, infelizmente — pela forma como as eleições acontecem­—, talvez mais de 90% dos eleitores não enxerguem problemas no que aconteceu. Mas, este texto é para aqueles que, assim como eu, se sentem incomodados com estes pequenos detalhes, que corrompem a conduta dos nossos representantes no poder legislativo.

“Poxa vida, realmente é algo alarmante. A oposição pode fazer a festa com este fato”. Claro que poderia, caro leitor, se existisse oposição comprometida. Infelizmente, no processo político brasileiro, o único objetivo da maioria das oposições é tomar o poder. Tanto é que, todos os onze vereadores, de situação e de oposição, fizeram as doações dos terrenos a quem bem entendessem. Ou seja, não se iluda, não existe a preocupação com a correta fiscalização dos recursos públicos, até porque os vereadores não foram eleitos para isso. Eles foram eleitos ao, ou para, satisfazerem necessidades pessoais de grande (talvez da maior) parte do seu eleitorado.

Ressalte-se que, não estou dizendo que os recursos públicos estão sendo mal aplicados. Afinal, o prefeito Francismar Carvalho faz um bom governo, bem melhor do que o que fazia a oposição. O que estou alertando é para o fato de não existir nenhum parlamentar cumprindo com o seu papel da forma como é prevista.

Mas, este texto não é para criticar ou incriminar algum vereador, este texto é para criticar e incriminar os eleitores. Isso mesmo, os vereadores não têm culpa dos atos falhos à frente do cargo para o qual foram eleitos de forma “democrática”. Pelos relatos que ouço, o que existe é uma verdadeira extorsão por parte do eleitorado. O eleitor está extorquindo os vereadores, o prefeito e todas as demais lideranças políticas e ninguém ver isso como um problema. Converse com um vereador, questione a ele sobre o que o “cidadão” pede no dia a dia e você concluirá que os políticos são os menos corruptos nessa história.

“Então, vamos conscientizar o povo, vamos dizer-lhes qual é o verdadeiro papel do vereador, vamos dizer que se o vereador não cumpre o seu papel a saúde e a educação não serão boas, que os recursos serão desviados...”. Não adianta, caro leitor mais consciente. Não tem como dizer a alguém que passa por dificuldades que a sua necessidade pessoal tem menos importância do que as necessidades do coletivo. Por muitas eleições ainda veremos a tradicional compra de votos (tijolos, telhas, cimento, caixas d’água, construção de casas, patrocínios de festas, artigos esportivos...). Algo que muitas vezes nem é considerado uma compra votos, mas, “apenas uma ajuda amiga, que não terá importância na escolha do meu candidato”.

O bom acompanhamento da aplicação dos recursos públicos pelos vereadores só será possível quando alguém for eleito sem comprar votos. Caso essa pessoa não exista, não adianta xingar os vereadores, o prefeito, o governador, os deputados, a presidente, a oposição... Eles não têm culpa pelos erros, eles são reféns de um sistema, reféns dos seus próprios eleitores, que querem ver os seus problemas pessoais resolvidos antes dos problemas coletivos.

Cabe ao eleitor mais consciente tentar identificar outros que também não estão satisfeitos. Esses eleitores precisam se unir e tentar construir um caminho diferente. A ideia do projeto apresentada no primeiro parágrafo visa tentar fazer essa união, fazer uma discussão isenta, que se preocupe apenas com o que é ideal para que tenhamos desenvolvimento econômico e social de fato, com os recursos públicos chegando onde precisam chegar, com planejamento e responsabilidade, sem se preocupar com as disputas eleitorais, principalmente as que envolvem o poder executivo.

Outros textos relacionados ao tema:

O problema da corrupção e a cumplicidade do povo

São Raimundo das Mangabeiras precisa de associações de moradores

O revanchismo político e os problemas sociais e estruturais brasileiros

Obs.: O Blog Memórias de Mangabeiras está aberto à publicação de textos opinativos, relacionados a São Raimundo das Mangabeiras. Os autores interessados podem entrar em contato com João Batista Passos, pelo Facebook (AQUI) ou através do WhatsApp (99) 98104-7820. Textos opinativos só serão publicados com a devida identificação do autor.